terça-feira, 19 de abril de 2016

Educação e Valorização Cultural



Como portadores de tradições culturais próprias e visões de mundo específicas, os povos indígenas no Brasil têm direitos culturais reconhecidos pela Constituição, entre eles, o direito a uma educação escolar diferenciada, que valorize suas línguas e culturas. O Iepé tem atuado na formação de professores indígenas, assessoria à construção e implantação de currículos escolares diferenciados para as escolas das aldeias e na produção de materiais didáticos – em português e nas línguas indígenas –  que valorizem conhecimentos, saberes e práticas indígenas.

O Iepé atua também para o reconhecimento e valorização das línguas e culturas indígenas, tanto por parte das próprias comunidades, quanto da sociedade envolvente, que desconhece as concepções e práticas de conhecimento, de transmissão e formas de expressão cultural dos povos indígenas. O Iepé acredita que a promoção de reflexões aprofundadas das comunidades indígenas com suas próprias tradições é o primeiro passo para programas de valorização cultural, que promovem o estabelecimento de novos elos entre as gerações. Neste sentido, atua na formação de pesquisadores indígenas para a gestão de seus patrimônios culturais, o que envolve o registro e a difusão, interna e externa de aspectos de seus conhecimentos tradicionais, bem como o uso de novas tecnologias (escrita e audiovisual) por parte dos jovens indígenas.

Promover a apropriação, pelos grupos indígenas, de novos espaços em que se realizam pesquisa, sistematização, registro, documentação e difusão de saberes e práticas culturais, como o Centro de Documentação e Formação Wajãpi, na Terra Indígena Wajãpi, e o Museu Kuahí dos povos indígenas do Oiapoque, também está entre as prioridades de atuação do Iepé.

 “Cultura” não é um repositório de coisas do passado, mas um movimento prospectivo rumo a um futuro mais respeitoso das diferenças culturais.
 As ações do Iepé voltadas à formação de pesquisadores indígenas têm sido pautadas por algumas ideias norteadoras:
• Apropriação de uma nova noção de “cultura” – discussão dos conceitos de cultura e de patrimônio cultural, ambos inexistentes nos sistemas explicativos e nas lógicas próprias ao conhecimento indígena, propondo aos índios uma reflexão sobre o que é cultura, para além de um conjunto de traços culturais estanques.
• Refletir sobre a diferença entre formas de transmissão –  reflexão sobre o quanto saberes e práticas culturais se transformam quando passam de contextos informais – e também, orais – para contextos formais, onde são apropriadas novas formas de registro e, sobretudo de representação das manifestações culturais.
• Valorização da língua e de categorias próprias do pensamento – respeito às categorias próprias do pensamento indígena, com produção de registros primeiro na língua materna. Quando há interesse em divulgar os resultados para um público externo, se realiza um segundo trabalho, de transposição para a língua portuguesa.
• Valorização interna das práticas culturais – primeiro valorizar internamente, depois selecionar o que se quer comunicar e como comunicar e depois gerar produtos para o público externo, de modo que não seja o mercado o orientador dos processos de valorização cultural nas aldeias.

Depoimentos:

O Iepé está ajudando a fortalecer cultura do Wajãpi, está fazendo a formação dos pesquisadores, pra ajudar a explicar a cultura dos Wajãpi pros brancos, pra fortalecer a cultura nas aldeias. Porque o conhecimento não é para ficar no livro, mas para colocar na prática, os mais velhos têm que passar o conhecimento pros mais jovens na prática, e o Iepé defende isso, tá fortalecendo esta ideia. Queremos que o Iepé continue fazendo assessoria pra gente, porque os problemas nunca acabam e sempre aumentam.
Kasiripina Wajãpi, chefe de aldeia


O curso de formação de professores e pesquisadores que o Iepé elaborou para nós ajudou muito. Os professores tinham muita dificuldade para planejar suas aulas e como ensinar seus alunos. Com o curso, aprendemos a planejar nossas aulas, a pesquisar o que foi perdido dos nossos antepassados, a falar melhor a língua portuguesa, que é a segunda língua para nós, a buscar novos conhecimentos para dar aos nossos alunos. Durante o curso aprendemos também sobre as leis e isso foi muito importante para nós sabermos sobre nossos direitos. Também elaboramos os livros na nossa língua materna e que agora estamos usando com nossos alunos.
Justino Kaxuyana Warawaka, professor


Quando o Museu Kuahí já estava construído, o Iepé teve uma grande preocupação em fazer com que realmente o Museu fosse inaugurado, cobrando isso do Governo. Depois o Iepé começou a correr atrás de capacitação para os funcionários do Museu e também sempre contribuiu para as nossas exposições, fazendo a ponte e nos dando suporte. Se o nosso Museu tem particularidades como o quadro de funcionários formado apenas por indígenas, devemos isso ao nosso parceiro Iepé, sempre pronto para nos ajudar.
Hélio Ioio Labontê, diretor do Museu Kuahí

Fonte: Instituto Iepé


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